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http://ciclofemini.com.br/
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Cuidando da Magrela com Carinho – por Claudia Franco
Sua Magrela merece ser cuidada com carinho!
Você já teve a curiosidade de visitar o bicicletário de algum prédio? Posso garantir, a visão é muito triste, pois vai se deparar com um grande número de bicicletas completamente abandonadas, empoeiradas, enferrujadas, com maus tratos.
As que estão em melhor estado, pelo menos visualmente, vê-se que as correntes precisam de limpeza, os cabos estão desgastados e por ai vai.
Sempre me pergunto, quem seriam os donos destas bicicletas? Porque investiram em um bem tão útil a mobilidade urbana e a saúde e, nem sequer lembram-se que o possuem? Há quanto tempo estas bicicletas estão sem uso e sem manutenção?
Para estes donos de bicicletas abandonadas minha sugestão é que revisitem aquela sensação de alegria e satisfação quando compraram a magrela e retomem o desejo de utilizá-la. Dêem nova vida a bicicleta e percebam os benefícios que terão ao colocá-la em uso freqüente.
Para aqueles que já se utilizam da bicicleta com freqüência reuni algumas dicas de como cuidar bem da sua companheira.
Em primeiro lugar será útil conhecer as partes que compõem uma bicicleta. O exemplo abaixo trata-se de uma bicicleta de mountain biking, full suspension (com suspensão traseira e dianteira), é dotada de um número maior de peças móveis, mas as partes ilustradas são, de maneira geral, integrantes de qualquer bicicleta.
1. Passadores e Manetes de Freio 2. Guidão 3. Mesa / Avanço 4. Quadro
5. Canote 6. Selim 7. Suspensão Dianteira 8. Suspensão Traseira
9. Câmbio Traseiro 10. Câmbio Dianteiro 11. Eixos 12. Catraca / Roda Livre
13. Eixo Central 14. Pedivela 15. Pneu 16. Aro 17. Raios
Veja a seguir o que dizem os especialistas do mercado a respeito da manutenção da bicicleta.
Conversei com Rafael Calhau , responsável pelo departamento de garantias e assistência técnica da Scott Brasil e também com Autieri Soares, mecânico chefe da loja Bike Town, na cidade de São Paulo.
Veja a seguir o resultado da conversa com estes especialistas.
Para termos segurança em uma trilha, em um passeio, por mais simples e curto que seja precisamos ter confiança em nosso equipamento, saber que todas as peças e conjuntos mecânicos estão em perfeito estado, para isso precisamos fazer uma manutenção rotineira em nossa bicicleta. Podemos dividir a manutenção da bike em três partes: limpeza, ajuste e lubrificação.
Limpeza: Deveremos lavar a bicicleta toda com água e sabão neutro, mas tomando cuidado para não usar jatos d’água próximos aos eixos (central e das rodas), pois pode penetrar água e acabar por estragar sua lubrificação interna. Nestes pontos devemos usar uma escovinha ou um pincel para retirar os resíduos. É na limpeza também que podemos detectar problemas como rachaduras e amassados.
Complemento de Rafael Calhau: É exatamente isso. Durante a lavagem, temos a oportunidade de observar problemas, quebras, trincas e até acompanhar o desgaste natural das peças. A lavagem com água (mangueira de alta pressão) só é recomendada se a bike estiver coberta de lama e deverá ser desmontada e re-montada completamente em seguida. A lavagem a seco ou com pano úmido é o mais indicado. Para desengraxar as partes de engrenagens e corrente deve-se utilizar um desengraxante para bicicletas (alternativa mais barata é querosene de supermercado) com um pincel e depois lavar com água corrente. Detergente de louças é um ótimo produto para o toque final. Nunca deixe resíduos de sabão nas partes plásticas ou emborrachadas.
Ajuste: É a parte em que devemos fazer pequenas regulagens no equipamento para um melhor funcionamento. A bicicleta com o tempo sofre um desgaste natural, que faz com que suas partes móveis cedam e passem a não funcionar direito, tais como: freios, câmbios e suspensão. Freios e câmbios são acionados por cabos (tirando os freios hidráulicos), logo eles acabam cedendo e ficando frouxos, devendo assim ser reapertados e regulados no ponto certo, no caso dos freios ainda há o desgaste das sapatas.
Complemento de Rafael Calhau: Para regulagem de câmbios deve-se observar o estado de conservação dos cabos e conduítes primeiro. Não faz sentido regular um cambio onde os cabos estão “além” da vida. Outro fator é olhar o alinhamento dos câmbios. Para o cambio traseiro, a gancheira deve estar alinhada em relação ao cassete e para o cambio dianteiro, deve estar alinhado com a coroa grande do pé de vela. Também deve-se observar os parafusos que regulam os limites que os câmbios alcançam (aqueles parafusos pequenos). A indicação dos fabricantes diz “H”para high gears e” L” para low gears. Esses limites não devem ultrapassar o alinhamento com as coroas e engrenagens. Mais um fator importante é a integridade dos passadores de marchas que se não estiverem 100% irão comprometer a qualidade das trocas de marcha.
Lubrificação: A lubrificação deve ser feita na transmissão (câmbios, passadores, corrente, catraca e pedivela), nos freios (manetes e eixos) e nos movimentos por esferas (eixos das rodas, eixo central e caixa de direção), sendo que, este último, necessário um pouco de experiência para desmontar e remontar suas peças. Na transmissão e nos freios deve ser utilizado um óleo fino (baixa viscosidade) como os da Shimano ou da Finish Line, podendo ser usado também óleo de máquina de costura (Singer). Já nos movimentos por esfera deve ser aplicado graxa do tipo MC2.
Complemento de Rafael Calhau: A lubrificação realmente ainda é um mito para a maioria das pessoas. Não é preciso ser nenhum cientista para lubrificar a bike. O que é o mais importante manter lubrificado é a corrente. Excesso de óleo também é ruim para o sistema. Aplicar uma quantidade generosa de óleo e depois, com a ajuda de um pano limpo na palma da mão esquerda, segurar a corrente. Com a mão direita, girar o pedal para trás e assim, espalhar o óleo por toda a corrente e retirar também o excesso. Para outras peças, o ideal é procurar uma loja especializada pois é preciso ferramentas adequadas. OBS IMPORTANTE: NUNCA UTILIZE ÓLEO SPRAY DELIBERADAMENTE!! É EXTREMAMENTE AGRESSIVO E SE ATINGIR DISCOS OU PASTILHAS DE FREIO PODE SER COMPROMETEDOR EXIGINDO A TROCA DAS PEÇAS.
Pneus e Câmaras-de-Ar: Devemos deixar sempre a câmara-de- ar na pressão correta, pois mesmo as melhores câmaras-de-ar não são completamente vedadas devido às microporosidades da borracha. A pressão certa varia de pneu para pneu, mas fica em torno de 35 PSI para trilha e 50 PSI para asfalto, isso evita de acontecer os chamados “snake bites” que são furos duplos causados pelo esmagamento do pneu entre um obstáculo e o aro da bicicleta. Regularmente verifique o pneu contra o aparecimento de rachaduras, desgaste, cortes e esfolados, pois se o pneu estourar durante uma descida, por exemplo, pode causar um sério acidente.
Eixos: Devem estar sempre em boas condições, pois depende dele a livre rolagem da roda e do pedivela. Devem ser lubrificados com graxa, mas para isso é preciso desmontá-los, o que deve ser feito apenas por ciclistas experientes, ou por um mecânico especializado. São fixados ao quadro por blocagens (ou saque-rápido), para facilitar a sua retirada, devendo, portanto ser colocados na mesma posição, para que a roda não fique agarrando na sapata do freio.
Aros e Raios: Os aros são importantes porque também fazem parte do sistema de freios da bicicleta. Regular freios com aros empenados é uma tarefa impossível, devendo o aro ser desempenado ou trocado, dependendo da avaria, podendo ser feito o desempeno numa loja especializada. Devemos verificar o estado do aro à procura de amassados e rachaduras, principalmente na emenda. Se começarmos a sentir uma trepidação na bicicleta, é porque os raios estão desregulados, ficando a roda “ovalizada”. Para sanar este problema devemos apertar ou soltar os “niples” que é a fixação do raio com o aro.
Complemento de Rafael Calhau: É um trabalho que deve ser feito por um profissional. Alinhar rodas, trocar raios ou aros é muito complexo. Exigi muita atenção e peças compatíveis. Um raio de 1 milímetro diferente dos demais pode causar uma roda problemática. Nipples são geralmente peças que apresentam sinais de ferrugem. Uma vez por mês é importante colocar “uma” gota de óleo de máquina em cada nipple prolongando a vida útil.
Freios: Com o uso as sapatas do freio vão se desgastando, ficando o sistema com muita folga. A solução é soltar mais os parafusos de regulagens dos manetes de freio, ou, se a folga é muito grande, soltar o parafuso da sapata e aproximá-la do aro, tornando a apertar o parafuso novamente. Tome o cuidado de deixar as sapata paralelas ao aro, se não há a possibilidade de quando for acionado o freio, a sapata pegar no pneu, provocando um rasgo e a perda do pneu.
Complemento de Rafael Calhau: Freios V-brake são fáceis de regular. Até os leigos, se olharem os freios por 15 minutos passarão a entender o mecanismo. Vale a “tentativa e erro” para estes freios. Já os freios hidráulicos requerem mais atenção e conhecimento além de materiais e óleo compatíveis. Para encurtar cabos ou sangrar, uma loja especializada deve ser consultada. Peças de reposição serão necessárias em alguns casos.
Transmissão: A transmissão deve ser limpa e lubrificada após cada trilha, devendo os detritos ser retirados com querosene e uma escovinha. Depois é só colocar um óleo de baixa viscosidade. Não use graxa pois nela grudam muita poeira e terra, e também não use óleo desengripante como o WD-40 pois evapora rapidamente, deixando a corrente seca. Lembre-se, utilize o óleo com moderação, retirando sempre os excessos.
Guidão: Peça geralmente de alumínio (material sujeito à fadiga) que sustenta parte do peso do ciclista, devendo a vir ser trocado regularmente, pois há risco de quebra. Se você faz trilha toda semana, é melhor que fazê-lo uma vez por ano. Pode ser de alumínio ou de titânio, sendo este último mais resistente.
Complemento de Rafael Calhau: Vale para os de carbono também. Hoje em dia os materiais utilizados em peças como “guidões” e “mesas ou avanços” são muito resistentes. Podem ser utilizados por mais de 2 anos mas no caso de um acidente ou queda violenta, deverá ser condenado e substituído.
Entrevista com Autieri Soares
Ciclofemini: Toda bicicleta demanda manutenção ou as bicicletas mais caras demandam mais?
Autieri: Todas demandam sim manutenção periódica. Uma bike com peças boas normalmente ”segura” a regulagem por mais tempo e por isso é até mais ”fácil” de se regular (para quem sabe), mas normalmente tem equipamentos que oferecem mais recursos ao ciclista e que por isso demandam mais cuidado (suspensão boa que necessita de manutenção preventiva/limpeza, rodas idem, etc).
Ciclofemini: A manutenção da bike tem haver com a freqüência de uso? Ou seja, se a bike ficar parada um tempo não vai precisar de manutenção?
Autieri: Os principais fatores para se identificar a freqüência ideal de ida para a revisão são freqüência de uso e principalmente o tipo de uso, quem tem um perfil de uso mais ”jipeiro” acaba sempre visitando a oficina ao menos 1 vez por mês ou a cada 2 meses e gastando mais também em troca de peças, etc. A bike parada com peças boas normalmente não perde regulagem, mas há itens mais perecíveis na bike que acabam necessitando de troca a cada 3-5 anos ao menos só pela questão de ressecamento de borracha i.e pneus, câmaras, manoplas. Nem precisa ser o caso de uma pessoa que deixa a bike no sol, com uma bike parada por anos, de cara já será necessário trocar pneu, câmara, manopla e às vezes o conjunto de acionamento cabos e conduites.
Ciclofemini: A manutenção tem que ser feita na loja ou o próprio usuário pode fazer?
Autieri: Há uma manutenção básica que pode e deve ser feita pelo ciclista e que retarda a
Vinda à loja. Além dos cursos de manutenção básica de bikes há também no mercado vários produtos, equipamentos de insumos para manutenção da bike em casa, exemplo: suporte de manutenção (pra pendurar a bicicleta), limpador de corrente, lubrificantes, desengraxantes, ferramentas de corrente, central, caixa de direção, pedivela, cassete de uso doméstico. Algumas marcas que oferecem isso: PRO, Finish Line,Park Tool, Topeak mas também há outras boas.
Ciclofemini: Quais são os principais cuidados que se deve ter com a bike?
Autieri: Dá pra fazer uma lista grande de dicas como: Sempre usar óleo específico para bicicleta na corrente e nunca produtos para moto ou automóveis ou wd-40 ou mesmo óleo de cozinha e verniz. Além disso, não se deve usar o óleo em coroas e casseet, esses necessitam de graxa e compostos diferentes.
Ciclofemini: A manutenção é cara?
Autieri: Uma lavagem com lubrificação de corrente é um serviço cobrado em torno de 30 a 40 reais, indicado pra quem está com a bike bem regulada logo após uma revisão mais completa e voltou de um pedal com a bike bem suja. Ao passo que uma revisão geral, desmontagem completa incluindo cubos, caixa de direção e movimento central custa ao menos 120 reais. É importante também fazer manutenções preventivas em suspensão de 40 a 160 reais, isso é recomendado por quantidade de horas de uso e conforme o que o fabricante indica. Freio a disco hidráulico de 60 a 100 reais, troca do óleo de acionamento, pastilhas e pedais de encaixe de 15 a 30 reais. Tudo isso protege o ciclista contra surpresas, uma quebra ou até pior, uma queda, e deve ser sempre programado com a freqüência de uso e também antes de competições e viagens longas.
Ciclofemini: Quais as suas principais dicas?
Autieri: Fazer um curso de mecânica básica, vai possibilitar a realização do self home care e também ajuda a conversar com o mecânico e entender tudo com mais clareza.
Quer mais informações ainda?
Dicas para manter a sua bike como nova: “É melhor prevenir do que remediar” – Com certeza você já ouviu essa máxima. Na coluna palavra do mecânico, veja o que os “doutores da bike” indicam para evitar uma “intervenção cirúrgica” na sua magrela. Leia mais >>>>http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico01.php
Manutenção da Corrente: A manutenção da corrente da bicicleta é um assunto delicado, pois se trata do componente que transmite a força da sua pedalada para a roda traseira. Como ocorre aplicação de força sobre a corrente, ela se desgasta fácil e pode não funcionar adequadamente. Leia mais>>>>http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico02.php
Limpeza da corrente: Para manter sua corrente limpa, o primeiro passo é realizar a limpeza por fora, com uma escova e um pano seco. A lubrificação é necessária sempre que a corrente estiver muito seca ou muito suja, especialmente depois de andar na lama ou no barro, depois de uma chuva, ou numa estrada muito empoeirada. Leia mais>>>>http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico03.php
Cabos de aço: Os cabos de aço cumprem um papel fundamental no funcionamento da bike: a partir deles acionamos marchas e freios. Por isso, mantê-los em bom estado garante uma troca de marchas precisa e, principalmente, garante que os freios estarão lá quando você precisar! Leia mais>>>> http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico04.php
Câmaras de ar: A câmara de ar é um dos elementos da bike mais sujeitos a problemas, pois são relativamente delicadas, e qualquer objeto pontiagudo pode furá-las ou cortá-las. O conserto das câmaras não tem segredo algum e é bem simples de ser realizado, apesar de muitas pessoas terem receio de fazer. Leia mais>>>> http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico05.php
Regulagem do câmbio traseiro: câmbio traseiro é um dos componentes da bike que mais trabalha e, por isso, um dos mais sujeitos à perda de regulagem da indexação, principalmente devido ao natural esticamento dos cabos e à compressão dos conduítes. Indexação significa que cada click no trocador corresponde a mudança de uma marcha. Leia mais>>>>http://www.revistabicicleta.com.br/palavrademecanico06.php
Agora mãos à obra! Pegue sua magrela e dê aquele trato, afinal ela merece, pois quando bem cuidada ela o levará a qualquer lugar.
Fonte:
Revista Bicicleta: www.revistabicicleta.com.br
Trilhas e Aventuras: www.trilhaseaventuras.com.br
Rafael Calhau , responsável pelo departamento de garantias e assistência técnica da Scott Brasil
Autieri Soares, mecânico chefe da loja Bike Town, na cidade de São Paulo.